O uso da vírgula é essencial para construir o sentido desejado e fazer a boa compreensão de um texto escrito, separando termos que podem gerar ambiguidades. Além disso, este tipo de pontuação indica em que pontos é necessária uma pequena pausa no fluxo de leitura.
Mesmo tratando-se de um sinal de pontuação essencial para a escrita na língua portuguesa, a utilização da vírgula ainda é um assunto que gera muitas dúvidas, tanto em quem já está mais avançado quanto em quem está começando a estudar português do zero.
Neste texto, vamos explicar com mais detalhes qual é a função da vírgula e mostrar para você como usar a vírgula corretamente.
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Quando não usar a vírgula?
Ao contrário do que muitas pessoas pensam ou aprenderam, o uso da vírgula não está ligado a fazer pausas para respirar durante a leitura de um texto. Até porque as pessoas não respiram todas da mesma forma, não é verdade?Portanto, além de não ser esta a função da vírgula, é necessário compreender melhor outras situações em que ela não deve ser utilizada, como vamos mostrar a seguir.
1.Entre o sujeito e o verbo da oração
A ordem canônica de uma frase em português, ou seja, a sequência que apresenta os elementos básicos para construir frases, é: sujeito, verbo e objeto. Sempre que esta ordem é respeitada, não se deve fazer uso da vírgula.Por exemplo:
Uso correto | Uso incorreto |
O pai do engenheiro Rodrigo dirigiu o carro. | O pai do engenheiro Rodrigo, dirigiu o carro. |
As amigas de Renata gostam de maçãs. | As amigas de Renata, gostam de maçãs. |
2.Entre o verbo e seus complementos
Como comentamos acima, da mesma maneira que uma frase que segue a ordem canônica não deve separar o sujeito do verbo com o uso da vírgula, isto também não deve ser feito entre o verbo e seu objeto (ou complementos).
Por exemplo:
Uso correto | Uso incorreto |
O pai do engenheiro Rodrigo dirigiu o carro. | O pai do engenheiro Rodrigo dirigiu, o carro. |
As amigas de Renata gostam de maçãs. | As amigas de Renata gostam, de maçãs. |
3.Entre orações subordinadas adjetivas restritivas
O papel de uma oração subordinada adjetiva é qualificar o termo que a precede. Elas podem ser explicativas (que admitem uso da vírgula, como veremos mais adiante) ou restritivas. No caso das restritivas, a qualificação do termo anterior é fundamental para a compreensão correta da frase. Ou seja: não pode ser omitida do enunciado, e por isso não é separada por vírgulas.
Por exemplo:
O livro que estou lendo é muito interessante.
Cão que ladra não morde.
4.Antes de oração adverbial consecutiva
Quando uma oração indica consequência em relação a uma primeira, dependendo dela para fazer sentido, temos uma oração adverbial consecutiva. Quando ela começa com “que” não devemos fazer o uso da vírgula para separá-las.
Por exemplo:
Uso correto | Uso incorreto |
Ela chorou tanto que seus olhos ficaram vermelhos. | Ela chorou tanto, que seus olhos ficaram vermelhos. |
Ficamos tão satisfeitos que demos a gorjeta em dobro. | Ficamos tão satisfeitos, que demos a gorjeta em dobro. |
Quando o uso da vírgula está correto?
Agora é hora de entender quando usar vírgula. As regras para o uso da vírgula são bem claras e específicas, então salve este post nos seus favoritos para poder sempre voltar aqui e consultar quando estiver na dúvida!
1.Advérbio de tempo e lugar
Este é fácil. Deve-se usar vírgula para separar localidade e tempo, normalmente em documentos oficiais, correspondências ou comunicações que contenham datas.
Por exemplo:
Curitiba, 26 de outubro de 2022.
Maceió, 13/11/2020.
2.Conjunções coordenativas deslocadas para o meio da oração
Conjunção coordenativa é aquela que liga duas orações coordenadas: ou seja, que não dependem uma da outra para ter sentido completo. A posição padrão da conjunção coordenativa é no início da frase. Quando isso não acontece, é necessário a utilização da vírgula.
Veja este exemplo com a conjunção coordenativa “entretanto”:
Início da frase | Fora da posição padrão |
Gostaria de ter mais dinheiro. Entretanto isso não significa que quero gastar menos. | Gostaria de ter mais dinheiro. Isso não significa, entretanto, que quero gastar menos. |
3.Orações deslocadas dentro de outra oração
Quando um fragmento de informação é intercalado, destacando-se da oração, deve ser separado com o uso de vírgula.
Por exemplo:
Os finais de semana, imagino, são feitos para descansar.
Todos, disse o responsável, devem portar os documentos de identificação.
4.Orações adjetivas explicativas
Lembra quando falamos das orações subordinadas adjetivas restritivas, e como usar vírgula nestes casos é errado? No caso das orações adjetivas explicativas ocorre exatamente o contrário. Se esta oração não for isolada por vírgulas, passa a ser restritiva, alterando o sentido da frase e criando ambiguidade.
Por exemplo:
Oração adjetiva explicativa | Oração adjetiva restritiva |
As meninas, que jogam vôlei, chegaram mais cedo para treinar. Já os meninos, que jogam futebol, chegaram mais tarde. | As meninas que jogam vôlei chegaram mais cedo para treinar. Já as meninas que jogam basquete chegaram mais tarde. |
5.Adjuntos adverbiais em posição padrão
Como já dissemos lá no início, a ordem canônica da língua portuguesa é sujeito, verbo e objeto. Assim, se o adjunto adverbial for colocado no final da oração, significa que está em posição padrão.
Por exemplo:
Jorge correrá uma maratona amanhã.
Neste caso, como há apenas um adjunto adverbial (amanhã), o uso da vírgula é facultativo. Porém, quando mais de um adjunto adverbial é utilizado, a utilização da vírgula torna-se obrigatória. Veja três formas de como isso pode ser feito:
Jorge correrá uma maratona, amanhã depois do trabalho.
Jorge correrá uma maratona amanhã, depois do trabalho.
Jorge correrá uma maratona, amanhã, depois do trabalho.
6.Adjuntos adverbiais fora da posição padrão
Os adjuntos adverbiais podem aparecer em vários lugares dentro de uma oração. Caso seja fora da posição padrão isso deve ser indicado pelo uso de vírgula, mesmo que trate-se apenas de um adjunto adverbial.
Por exemplo:
Amanhã, Jorge correrá uma maratona.
Jorge, amanhã, correrá uma maratona.
Jorge correrá, amanhã, uma maratona.
7.Adjuntos adverbiais sob forma de oração
Os adjuntos adverbiais podem aparecer em forma de oração, dando origem a uma oração subordinada adverbial. Quando isso acontece, a regra é a mesma de um adjunto adverbial: se estiver na posição padrão o uso da vírgula é facultativo. Fora dela, é obrigatório.
Por exemplo:
Jorge correrá uma maratona quando se sentir preparado.
Jorge correrá uma maratona, quando se sentir preparado.
Quando se sentir preparado, Jorge correrá uma maratona.
Jorge correrá, quando se sentir preparado, uma maratona.
8.Termos com a mesma função e não ligados por conjunção
Termos que exercem a mesma função sintática, quando não estão unidos por conjunções, são intercalados utilizando vírgulas.
Por exemplo:
Na feira encontra-se de tudo: verduras, frutas, legumes, carnes.
Porém pode acontecer de as conjunções repetirem-se em uma enumeração. Neste caso elas devem ser separadas com o uso de vírgula.
Por exemplo:
Ou verduras, ou frutas, ou legumes, ou carnes: era preciso escolher por onde começar as compras.
9.Vocativo
Não importa onde esteja na frase, o vocativo deve sempre ser separado com a utilização da vírgula.
Por exemplo:
Jorge, você já correu alguma maratona?
Você já correu alguma maratona, Jorge?
Você já correu, Jorge, alguma maratona?
10.Aposto
Da mesma forma que acontece com o vocativo, o aposto deve sempre ser isolado com o uso de vírgula, mesmo que esteja no início da sentença.
Por exemplo:
Jorge, atleta mais jovem da companhia, correrá sua primeira maratona.
Atleta mais jovem da companhia, Jorge correrá sua primeira maratona.
11.Elipse verbal
Quando é possível omitir um verbo que já apareceu na oração anterior, ocorre uma figura de linguagem chamada de elipse. Esta omissão deve ser representada com o uso de vírgula.
Por exemplo:
Helena começa a treinar às 8h nos dias de semana. Nos sábados, começa a treinar às 10h.
12.Expressões explicativas
Também chamadas de expressões de retificação, devem ser isoladas com o uso de vírgulas. Conheça algumas delas:
Por exemplo
Inclusive
Aliás
Além disso
Ou melhor
Isto é
A saber
Ou seja
Por exemplo:
Luís gosta de cozinhar. Além disso, faz questão de comprar os ingredientes.
Mariana chega em casa sempre às 21h, aliás, às 22h.
Inclusive, já falamos bastante sobre este assunto.
Dúvidas sobre o uso da vírgula
O uso da vírgula é um tema que gera muitas dúvidas. Mesmo depois de tantas explicações sobre como usar a vírgula corretamente, você ainda pode estar pensando em algumas situações específicas. Abaixo, trazemos algumas delas.
1.Depois do “mas”
Conjunções adversativas são aquelas que unem dois elementos com sentido de oposição. Algumas delas são:
Porém
Todavia
Mas
A regra diz que deve-se sempre usar vírgula depois destas conjunções, com uma única exceção: o “mas”. Justamente por isso ele gera bastante dúvida.
No caso do “mas”, não deve ser colocada vírgula após a palavra, não importa onde ela esteja na oração. Por outro lado, ela deve ser antecedida por vírgula.
Por exemplo:
Amo dias frios, mas não gosto quando chove.
Não gosto de dias frios… Mas ontem estava muito agradável.
2.Antes de “que”
Como vimos anteriormente, devemos usar vírgulas antes da palavra “que” no caso de orações adjetivas explicativas. Lembrando que estas são as que incluem informações adicionais ao termo que as precede.
Por exemplo:
As crianças, que gostavam muito de doces, logo saíram em busca dos chocolates.
Caso trate-se de uma oração adjetiva restritiva, ou seja, que especifica o termo anterior, a vírgula não deve ser utilizada.
Por exemplo:
Somente as crianças que gostavam muito de doces foram incluídas na brincadeira.
3.Antes do “e”
Não devemos usar vírgula antes da conjunção “e” quando ela aparecer em meio a uma enumeração de itens ou ações.
Por exemplo:
Naquela casa havia muitas cadeiras, sofás e poltronas.
Caso a conjunção “e” esteja entre duas orações com sujeitos diferentes, aí então o uso de vírgula é obrigatório.
Por exemplo:
Treinei, dei o meu melhor na corrida, e você ganhou.
Exemplos de mudança de sentido por causa do uso da vírgula
Uma das principais funções do uso da vírgula é evitar ambiguidades. Sua ausência ou colocação podem alterar completamente a interpretação de texto. A seguir, veja alguns exemplos.
1. Não, quero saber o que se passa / Não quero saber o que se passa
No primeiro caso, existe o desejo de saber o que se passa. No segundo, porém, está claro que não existe essa vontade.
2. Estou vendendo meu filho, não uso mais / Estou vendendo, meu filho, não uso mais
A falta de vírgula pode gerar situações estapafúrdias como esta. Para evitá-la, como no primeiro caso, é importante isolar o vocativo com vírgulas, como na segunda oração.
3.Pedro, o gerente do banco ligou / Pedro, o gerente do banco, ligou
Da mesma forma, a vírgula isolando o vocativo (na primeira frase) dá um sentido totalmente diferente de quando é usada como um aposto (segunda frase).
Exercícios sobre o uso da vírgula (com gabarito)
Questão 1 – UFV
Assinale a alternativa em que a presença/ausência da(s) vírgula(s) acarreta alteração semântica:
a) A sociedade seria talvez mais feliz se fosse menos egoísta. / A sociedade seria, talvez, mais feliz se fosse menos egoísta.
b) Na Holanda, houve a liberação geral do uso do tóxico! / Na Holanda houve a liberação geral do uso do tóxico!
c) O Governo tem, na Colômbia, um problema imenso com o narcotráfico. / O Governo tem na Colômbia um problema imenso com o narcotráfico.
d) O traficante, que é viciado, precisa de polícia e de família. / O traficante que é viciado precisa de polícia e de família.
e) Que a sociedade seja mais altruísta, e os jovens mais felizes! / Que a sociedade seja mais altruísta e os jovens mais felizes!
Resposta:
A resposta correta é a alternativa “d”. Quando as vírgulas são usadas, criando uma oração subordinada adjetiva explicativa, entende-se que o traficante é viciado e precisa da polícia e da família. Quando não há uso da vírgula, temos uma oração subordinada adjetiva restritiva. Neste caso, somente o traficante viciado precisa da polícia e da família, os demais não.
Questão 2 – Fuvest
Escolha a alternativa em que o texto é apresentado com a pontuação mais adequada:
a) Depois que há algumas gerações, o arsênico deixou de ser vendido, em farmácias, não diminuíram os casos de suicídio, ou envenenamento criminoso, mas aumentou e — quanto... o número de ratos.
b) Depois que há algumas gerações o arsênico, deixou de ser vendido em farmácias, não diminuíram os casos de suicídio ou envenenamento criminoso, mas aumentou: e quanto! o número de ratos.
c) Depois que, há algumas gerações, o arsênico deixou de ser vendido em farmácias, não diminuíram os casos de suicídio ou envenenamento criminoso, mas aumentou — e quanto! — o número de ratos.
d) Depois que há algumas gerações o arsênico deixou de ser vendido em farmácias — não diminuíram os casos de suicídio, ou envenenamento criminoso, mas aumentou; e quanto — o número de ratos.
e) Depois que, há algumas gerações o arsênico deixou de ser vendido em farmácias, não diminuíram os casos de suicídio ou envenenamento criminoso, mas aumentou; e quanto, o número de ratos!
Resposta:
A única sentença que mostra como usar a vírgula corretamente, sem alteração de sentido, é a “c”.
Questão 3 – Fuvest
Em qual destas frases a vírgula foi empregada para marcar a omissão do verbo?
a) Ter um apartamento no térreo é ter as vantagens de uma casa, além de poder desfrutar de um jardim.
b) Compre sem susto: a loja é virtual; os direitos, reais.
c) Para quem não conhece o mercado financeiro, procuramos usar uma linguagem livre do economês.
d) A sensação é de estar perdido: você não vai encontrar ninguém no Jalapão, mas vai ver a natureza intocada.
e) Esta é a informação mais importante para a preservação da água: sabendo usar, não vai faltar.
Resposta:
A alternativa correta é a “b”, na qual a vírgula marca a elipse do verbo ser, em sua conjugação “são”.
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Conclusão
Neste artigo explicamos como usar vírgula, trazendo muitos exemplos para você entender melhor e não errar mais na pontuação!
Agora que você já está craque no uso da vírgula, que tal aplicar tudo o que você aprendeu? Veja este post especial com 14 dicas práticas para mandar bem na redação!