Qual é a sua opinião sobre o uso da diversão na educação? Equivocadamente, muitas pessoas acham que trata-se somente de brincar. Mas quando olhamos esta interação sob o olhar da ludopedagogia, fica claro que esta abordagem tem muito a acrescentar ao desenvolvimento das crianças.
O lúdico faz parte da natureza da criança, é uma linguagem inerente a ela. Quando a brincadeira é trabalhada com um objetivo pedagógico, potencializa o processo de aprendizagem, tornando o desenvolvimento infantil mais completo.
Mas, afinal, por que o brincar pode ser o norte da educação infantil?
Neste texto, vamos falar sobre a importância da ludopedagogia e como ela é aplicada atualmente nas escolas, mostrar sobre os benefícios desta abordagem e apresentar algumas atividades que podem ser aplicadas em sala de aula.
Saiba como o utiliza o brincar para motivar o prazer em aprender e desenvolver ao máximo o potencial de cada um de seus alunos.
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O que é ludopedagogia?
A ludopedagogia é um segmento da pedagogia dedicado a estudar a influência do elemento lúdico na educação. Não se trata apenas da inserção da brincadeira pura e simples. Ela é uma ferramenta para propósitos pedagógicos dentro das diretrizes educacionais vigentes.
Por meio de recursos lúdicos, como jogos, games, teatro, música e cinema, a criança desenvolve a capacidade de formar conceitos, selecionar ideias, estabelecer relações e integrar percepções.
A ludicidade serve a um propósito de construção de valores sociais e afetivos, além de desenvolver os campos intelectual e motor.
Como a ludopedagogia é aplicada à educação?
As diretrizes educacionais brasileiras, na Educação Infantil e nos ciclos iniciais do Ensino Fundamental, estimulam o uso do lúdico dentro da sala de aula.
A própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é muito clara em dizer como a ludopedagogia é aplicada quando afirma que “a Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar o seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações. Assim, a instituição escolar está criando oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-lo em seu cotidiano.”
Um dos exemplos mais claros é o uso dessa técnica na alfabetização, já que o brincar e o desenhar atuam como uma preparação para o desenvolvimento da linguagem escrita.
Em forma de brincadeira, a criança passa do desenho de objetos ao desenho de letras, ou seja, da própria fala.
Qual é o público-alvo da ludopedagogia?
A ferramenta pode ser utilizada em qualquer fase do desenvolvimento infantil, mesmo que com abordagens distintas para crianças e adolescentes, por exemplo. Se você já ouviu falar em gamificação, logo vai entender que esta técnica, usada inclusive na instrução de adultos, nada mais é do que uma forma lúdica de ensinar.
Quando os estudos são acompanhados de diversão, dinâmicas interessantes e criativas, jogos e atividades que estimulem o aluno em vez de simplesmente desmotivá-lo com uma pressão constante, a aquisição do saber tende a se tornar mais rica, eficiente e prazerosa.
Principais benefícios da ludopedagogia
O uso desse recurso na alfabetização e no processo educativo é justificado por uma série de teóricos e estudiosos da educação. Ao usar o brincar no ambiente escolar, motiva-se o desenvolvimento de aspectos físicos, inteligência socioemocional e habilidades cognitivas.
Além disso, com a orientação de um adulto (no caso, um educador), o uso da ludicidade proporciona ainda mais vantagens e benefícios para as crianças. Conheça os principais a seguir.
Experimentar situações novas
No brincar a criança entra em contato, de forma lúdica, com situações novas ou presentes em seu dia a dia. Assim, ganha instrumentos para entender como agir ou encontrar soluções para o cotidiano.
Relacionar palavras com objetos
Ainda que não envolva a alfabetização propriamente dita ou a linguagem gramatical, ao interagir com os objetos da brincadeira a criança consegue lidar com o significado das palavras e relacioná-las com algo concreto, internalizando sua definição funcional.
Estimular a memória
A ludopedagogia estimula o uso da memória, ampliando-a e exercitando o armazenamento e organização das informações no cérebro da criança.
Desenvolver aspectos físicos
Além de satisfazer necessidades de crescimento e competitividade da criança, a brincadeira deve ser a base dos exercícios físicos durante o período escolar.
Desinibir
Segundo muitos educadores, a criança só mostra quem ela realmente é durante as brincadeiras. Assim, a ludopedagogia ajuda a penetrar os sistemas informais do aluno e contribui para sua desinibição.
Representar situações cotidianas
Por meio da brincadeira e do lúdico, a criança participa da representação de situações que simbolizam uma realidade à qual ainda não possui acesso. Ou seja, por meio do faz de conta ela entende o real e a própria personalidade.
Entender as regras sociais
Ao brincar, as crianças negociam um sistema de comunicação e interpretação da realidade. Em outras palavras, por mais que seja faz de conta, a brincadeira precisa de regras baseadas na realidade. Esta relação entre a imaginação e os papéis assumidos contribui para o desenvolvimento sociocultural da criança.
Transformar conteúdos em atividades interessantes
Além de tudo isso, a ludicidade ainda traz um enorme benefício didático, ajudando a transformar temas e conteúdos maçantes em atividades mais interessantes para a criança.
Com isso, a ludopedagogia tem o poder de diminuir a evasão escolar, aumentar a frequência, diminuir a violência dentro da escola e motivar a socialização e o respeito às diferenças.
Qual é a importância da ludopedagogia?
O uso de recursos lúdicos no ambiente escolar é uma forma de apresentar elementos do universo adulto às crianças, como conhecimentos ou maneiras de se relacionar, em forma de brincadeira.
Assim, atuando no desenvolvimento cognitivo e sensório-motor, a atividade lúdica torna-se um modo eficiente e gostoso de aprender.
Entretanto, é necessário que os professores e educadores fiquem atentos tanto aos objetivos que pretendem alcançar com cada atividade, como com à maneira como cada criança reage e responde a elas.
Desta forma, com base nos estudos de Jean Piaget e Lev Vygotsky, é possível identificar quais são as facilidades e dificuldades de cada aluno, de modo individualizado, e traçar estratégias de ensino baseadas neste diagnóstico e avaliação.
Por que trabalhar de forma lúdica em sala de aula?
É importante que as crianças tenham tempo e espaço para o brincar livre. Porém, as brincadeiras com objetivo pedagógico devem ter atenção especial do professor, que deve saber diferenciar os recursos lúdicos com caráter apenas de entretenimento daqueles que têm fundamentação pedagógica.
Entre os fatores fundamentais nessa escolha estão: faixa etária, potencial criativo e desafiador, possibilidade de autonomia e protagonismo da criança, além da diversidade na oferta.
A inserção das novas tecnologias tem se mostrado uma importante iniciativa nesse sentido, pois elas têm forte apelo no universo dos nativos digitais. Alguns recursos, aliás, têm favorecido a inclusão de crianças com deficiência, como o uso de games com crianças autistas e com Síndrome de Down.
Exemplos de atividades de ludopedagogia
Agora que você já sabe como o lúdico é aplicado na educação e qual é a sua importância no desenvolvimento de crianças, jovens e até mesmo adultos, que tal conhecer algumas ideias para aplicar tudo isso na prática?
As atividades a seguir podem ser aplicadas tanto em casa quanto na escola. O mais importante é que elas sejam realizadas de maneira livre e natural, com a liberdade para brincar e fantasiar que toda criança deve ter!
Desenhos, pinturas e colagens
A arte é uma grande aliada da ludopedagogia. Afinal, ela permite que a criança se expresse, estimule sua criatividade, trabalhe a coordenação motora e até mesmo tenha um impacto positivo na sua autoestima.
Este tipo de atividade pode ser realizada de diferentes maneiras: com lápis, lápis de cor, giz de cera, canetinhas, tinta… E se esse tipo de arte não for o preferido da criança, que tal usar tesoura, papel e revistas para trabalhar com colagens?
Seja qual for a técnica escolhida, usar a arte permite que a criança explore temáticas cotidianas ou o universo da fantasia.
Música
A música é uma excelente aliada do aprendizado, e não só para as crianças! Você sabia que é possível aprender inglês com música e potencializar o aprendizado do idioma em qualquer idade com esta atividade?
Além disso, a música na educação infantil traz inúmeros benefícios ao aprendizado. Ela trabalha a coordenação motora, desenvolve competências essenciais para o bom desenvolvimento socioemocional da criança, estimula o desenvolvimento da linguagem, aprimora habilidades cognitivas como a concentração e a criatividade e até mesmo auxilia na alfabetização infantil.
A própria parte de ritmo, com suas contagens de tempos e compassos, é uma ótima ferramenta para o que chamamos de letramento matemático.
Além das aulas de musicalização, seja com instrumentos musicais ou canto, o uso da música pode ser aplicado em diversos contextos.
Você pode integrar as canções à contação de histórias (assim como contos clássicos fazem há séculos), propor a construção de instrumentos musicais com sucata ou estimular a interação entre as crianças com cantigas de roda.
Jogos
Há muitos jogos que podem ser usados na fase de alfabetização, tanto para compreender melhor as regras gramaticais quanto para ajudar a ampliar o vocabulário. E mais: eles podem ser usados não somente com a língua portuguesa, mas com qualquer idioma que você ou seu filho estejam aprendendo.
E o melhor é que você não precisa de grandes recursos para colocar este tipo de atividade em prática. Para muitas delas, como stop, forca ou palavras-cruzadas, é necessário usar somente papel e caneta.
Hoje em dia, existem também várias opções de aplicativos para smartphones que oferecem jogos educativos com uma interface animada e interessante. É a tecnologia unindo forças com a ludopedagogia!
Fantoches
Brincar com fantoches é um ótimo jeito de estimular a criatividade e a imaginação. E isso vai bem além de simplesmente contar histórias. Com eles, é possível reforçar conceitos de amizade, paciência, tolerância, entre tantos outros, de forma divertida.
Assim como acontece no teatro ou quando a criança ouve histórias, experimentar inúmeras situações colocando-se no lugar de um ou mais personagens estimula a empatia, a solidariedade, o autoconhecimento e diversas outras habilidades socioemocionais.
E ainda dá para ir além nestas atividades de ludopedagogia, propondo às crianças que confeccionem seus próprios fantoches e cenários das histórias usando sucata e materiais recicláveis. Assim, elas também desenvolvem a coordenação motora, criatividade e capacidade de se expressar.
Qual é a relação entre ludopedagogia e psicomotricidade?
A ludopedagogia está ligada a elementos psicomotores adquiridos somente pelo ato de brincar, já que neste ato que ela aprende e se desenvolve.
Esta relação é importante principalmente na primeira infância, que lida com o corpo em movimento e pensamento participativo. Ou seja, é por meio do lúdico que a criança constrói sua visão em relação ao próprio corpo e mente. Em outras palavras, sua personalidade, quem ela é.
Segundo estudo de Mauricleide Leandro Aranha para a Universidade Federal da Paraíba, “no contexto escolar, valorizar a ludicidade e a psicomotricidade é, sobretudo, a construção de um novo pensamento para que a criança desenvolva o seu ético cognitivo com relação a sua identidade e a formação crítica”.
Conclusão
Como você pôde ver ao longo do conteúdo, a importância da ludopedagogia revela-se em benefícios didáticos de grande relevância. Mais que pura diversão ou um passatempo, o lúdico é um instrumento indispensável para o pleno desenvolvimento e aprendizagem da criança.
Nos aspectos psicomotores, as vantagens se apresentam em forma de desenvolvimento de habilidades físicas musculares e relacionadas à coordenação motora, desde a manipulação de brinquedos até a relação dos objetos com palavras e, em última instância, com a própria alfabetização.
Já os aspectos cognitivos, como encontrar soluções para problemas, formular ideias, entender problemas ou lembrar o que foi aprendido, encontram na ludopedagogia um excelente instrumento de desenvolvimento.
E não podemos esquecer dos aspectos socioemocionais, que incluem a interação com o outro, a compreensão da própria personalidade e a atenção às regras sociais.
Se você gostou deste artigo e quer se aprofundar ainda mais neste tema, confira estas 11 brincadeiras para os pequenos na educação infantil.