Um dos assuntos mais presentes nos encontros com meus colegas de Harvard e nos momentos de descontração com meus professores e orientadores é o inverno de Boston. Como o inverno aqui é intenso e dura muitos meses, eles ficam curiosos por saber se estou lidando bem com a situação. Além dessa preocupação, como sou brasileiro, eles também têm curiosidade em saber o que estou achando do clima daqui e como é o contraste com as temperaturas do Brasil.
Essas conversas rápidas, comentários até, que poderiam ser meramente informativas se tornam uma grande ponte para longos bate-papos. Os assuntos se diversificam e contemplam diferentes tópicos: desde políticas nacionais e internacionais até minha experiência na América do Norte – como tem sido minha adaptação, o que costumo comer, com quem eu moro, o que faço nas horas livres e, finalmente, se gosto do clima de Boston.
Esses diálogos, nos últimos dias, têm girado em torno da chegada da primavera. Isso porque nessa estação Boston fica coberta de verde e as flores começam a aparecer nas árvores e arbustos. Assim, como era de se esperar, ficam todos muito animados em falar sobre as mudanças não só do clima, mas também da paisagem.
Em uma dessas conversas sobre as estações do ano, um amigo estadunidense me falou que eu tenho uma pronúncia de inglês muito boa. Disse que entende tudo o que eu falo e até me perguntou onde eu havia aprendido seu idioma. Esse singelo comentário e essa simples pergunta fizeram meu dia! Eu respondi que havia feito um curso no Brasil com um método autodidata muito eficiente chamado Kumon, agradeci pelo elogio e, ao final da conversa, saí todo saltitante.
Mais tarde, em casa, fiquei pensando sobre aquele reconhecimento. Eu me lembrei do longo e árduo trajeto até aqui: das muitas horas ouvindo os AudioBooks de todos os estágios do Kumon e lendo em voz alta todas aquelas palavras nos bloquinhos. À época, eu fazia tudo aquilo sem nunca imaginar que um dia ouviria um comentário como aquele em um lugar como este em que estou. À época, eu certamente não pensava tanto na primavera e nas surpresas que as flores me trariam.